Captura
Perspectiva é de boa safra de camarão
Com água salgada na Lagoa dos Patos e expectativa de poucas chuvas em fevereiro, prognóstico é favorável aos pescadores da região
Carlos Queiroz -
Início de fevereiro. Estuário da Lagoa dos Patos. Um apelo: que as redes encontrem a fartura. E é o que a ciência também começa a indicar. Monitoramento do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) aponta que se não houver excesso de chuva, a perspectiva é de boa safra de camarão. Uma informação que infla os pescadores de esperança. É com a captura do crustáceo que os trabalhadores artesanais ganham a possibilidade de se livrar de dívidas e fazer reserva financeira para o período de defeso.
Os últimos dias foram de preparativos: reparo em redes, limpeza dos barcos e revisão dos motores. Tudo para poderem participar das festividades à padroeira Nossa Senhora dos Navegantes, neste domingo, e partirem às águas logo nos primeiros dias da semana. "Torcemos que dê tudo certo. Estamos prontos para baixar o coco e só parar no final de maio", conta Ivo José Machado Filho, 52. E comemora o fato de a Lagoa já ter salgado. Agora, basta não ser atingida por enxurradas para manter a condição ideal ao desenvolvimento do camarão. Um clamor que tem visto cruzar gerações: avô, pai e irmãos. Todos, sempre, na expectativa de verão seco para garantir redes cheias, na volta para casa.
As especulações com relação ao preço também crescem entre as rodas de conversa. A torcida é de que recebam cerca de R$ 10,00, por quilo, nesta arrancada da safra e possam alcançar o mínimo de R$ 12,00 ou R$ 13,00 quando o crustáceo já estiver mais graúdo. Valores que tendem a oscilar e, como tradicionalmente, ser definidos a partir da chegada de compradores de fora, que jogam os preços um pouco mais para cima. "Se Deus quiser vai ser bom", projeta o pescador Alexandre Rodrigues e lembra até hoje da abundância do ano 2000 e os barcos abarrotados de pescado. Uma cena que sonha em ver se repetir.
Em uma década, apenas duas safras boas
A percepção dos trabalhadores está afinada com o prognóstico da Furg. "A expectativa é boa neste momento. Temos a entrada de larvas que estão crescendo e se tornando juvenis", afirma o pesquisador Luiz Felipe Dumont. Os tamanhos são variados. Nesta largada da safra, ainda haverá uma fração importante de camarões pequenos, mas sem uma anomalia de chuvas, a situação deve melhorar - indica o doutor em Oceanografia Biológica.
E lembra que na última década, apenas dois anos não foram de escassez: 2012 e 2018. Todas as outras safras ficaram abaixo da média histórica de 2,5 mil toneladas de camarão capturados na Lagoa dos Patos. E são vários os fatores que interferem nos resultados; não apenas o clima e o respeito à legislação que estabelece o tamanho mínimo de nove centímetros para captura. "Outras atividades como destruição dos habitats costeiros, poluição e dragagens também são prejudiciais a essa pescaria", reforça o professor da Furg.
Entenda o ciclo de vida do camarão capturado na nossa região
O camarão da Lagoa dos Patos é oriundo de uma reprodução que acontece no estado de Santa Catarina.
Os adultos desovam no mar em Santa Catarina. Essas larvas são transportadas em direção ao Rio Grande do Sul pelas correntes e aguardam oportunidade de entrar no estuário, crescer e poder retornar para o oceano até Santa Catarina, fechando um ciclo de vida.
- E o que acontece aqui na Lagoa dos Patos que é diferente de outros lugares do mundo?
Aqui não temos uma maré física regulada pela lua. Em lugares como a Austrália, por exemplo, a água do mar entra e sai do estuário todos os dias, em função dessa maré. Aqui não. Aqui, a água salgada entra no estuário dependendo das chuvas e das frentes frias. Portanto, existem entre três, quatro, cinco momentos durante o ano que se tem esta condição para as larvas entrarem no estuário.
Então, como essas larvas entram com intervalos irregulares de água salgada há uma mistura muito grande de tamanhos dentro da Lagoa dos Patos. Em determinados pontos haverá camarões maiores, que entraram antes, e em outros locais estarão os camarões menores que entraram depois, mais para o fim da safra. Isso gera uma disparidade de tamanhos muito grande.
- Qual o problema disso?
É difícil selecionar o camarão. A legislação, portanto, estabelece o tamanho mínimo de nove centímetros de comprimento para garantir que os indivíduos menores não sejam capturados, que significaria dizer que este camarão não teve a oportunidade de retornar para o ambiente marinho em direção a Santa Catarina, para reproduzir e contribuir para a safra do ano seguinte.
Ao menos uma fração desse camarão precisa conseguir sair do estuário. Do contrário, a reprodução pode ser afetada e, consequentemente, diminuir a própria produção na Lagoa dos Patos. Ruim para o ambiente e para o pescador.
Colônia de Pescadores Z-3 (Foto: Carlos Queiroz - DP)
Em fevereiro, clima segue favorável
O mês de fevereiro promete ser favorável à atividade pesqueira na região. As chuvas devem permanecer de forma isolada, irregulares e de curta duração. "Não devem ocorrer pancadas mais abrangentes que interfiram no nível da lagoa", enfatiza a meteorologista da MetSul, Estael Sias.
É uma bela notícia à categoria. "Nos últimos sete anos esta é safra a que mais nos anima", admite o presidente do Sindicato dos Pescadores da Colônia Z-3, Nilmar da Conceição. E serve de porta-voz de aproximadamente 3,8 mil trabalhadores artesanais da Zona Sul licenciados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em quatro municípios da Zona Sul: Pelotas, Rio Grande, São José do Norte e São Lourenço do Sul.
Prestigie o ato de abertura da safra!
Quando: neste sábado, dia 1º de fevereiro, a partir das 11h30min
Local: Quiosque da Z-3
Programação: após a assinatura, haverá almoço à base de frutos do mar.
O almoço será por adesão, com convites antecipados ao valor de R$ 25,00.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário